Querido,


Sim, eu sei as respostas. Mas não posso dá-las.
Não quero ser responsável por você se tornar menos humano.


Alice.

Queria saber até quando será assim. É como se, em minha queda livre, eu olhasse para cima e visse uma mão estendida e, num piscar de olhos, ela já não estivesse mais lá, pronta para me segurar.

Se souber a resposta, Alice, me fale. Se souber como não se entregar tanto e como não perder o controle, por favor, me diga. Eu serei eternamente grato.





evie.

Sabe... gosto dele. Não o suficiente para dizer que o amo, mas o bastante para ficar imaginando o tempo todo como seria se estivéssemos juntos. Isso me conforta e me desespera ao mesmo tempo. Me aliena.
Não quero viver tudo àquilo de novo, Alice. Sei que se já que percebi que as coisas estão caminhando exatamente como antes, devia dar um basta. Me afastar. Manter o controle sobre meus sentimentos impulsivos. Mas tudo isso é tão difícil.
Acha que será assim para sempre? Desejarei a vida toda as pessoas e as coisas mais impossíveis e inalcançáveis?
Cansei de viver fantasiando situações que nunca acontecerão. Ficar imaginando o toque, o abraço, a respiração ofegante...

Alice...

Fiquei praticamente dois anos sem fazer nada, esperando realmente ter vontade de fazer alguma coisa. E agora, essa vontade aparece aos poucos. Em momentos, sempre curtos, quero conquistar o mundo. Já em outros, quero ficar parado, sozinho, esperando.
Às vezes eu penso que o ânimo que existia em mim antigamente não volta mais. O tempo passou, as coisas perderam a graça e tudo fica cada vez mais difícil. Parece que abriu um buraco no chão e eu estou caindo, sem saber onde vou parar e sem me importar muito com isso.
Poderia colocar a culpa na falta de estrutura. Afinal, até alguém como eu precisa de estrutura e apoio em certos momentos. mas isso seria fácil demais.
Queria encontrar uma escada e sair desse buraco, mas a queda livre me parece tão mais confortável...

Querida Alice,

Há tempos penso em lhe escrever, mas não conseguia achar motivos suficientes para isso. Os dias aqui estão passando todos iguais. As mesmas manhãs vazias na casa fria. As mesmas conversas com amizades nascidas ao acaso e que, num futuro breve, morrerão da mesma forma como começaram.

Confesso que a única coisa que tem me animado ultimamente é o pulsar de uma suposta nova paixão, que começo a sentir dentro de mim. Preciso ter calma e lutar para que isso não aumente cada vez mais. Sabemos bem como nossa vida se torna selvagem e insuportável quando o coração é destruído por felicidade e amor em excesso. Talvez eu não esteja preparado para colocar novamente outra pessoa como prioridade em minha vida.

Sinto-me um tolo por me apaixonar tão facilmente pelas pessoas. Acredito que nem seja paixão de verdade, apenas mais uma confusão causada pela carência angustiante e pelo desejo de encontrar alguém com quem possa conversar sobre assuntos que realmente me interessam.
Quero amor verdadeiro, Alice. Não quero mais perder meu tempo dançando no escuro, acreditando em promessas e palavras vazias jogadas ao vento.

Sei que entendes o que digo e também o que me dirias a respeito. Vou censurar meus sentimentos recém nascidos por enquanto. Escrevo novamente assim que algo novo surgir.


~ evie.

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